No caminho para a Igreja Matriz do Outeiro da Cortiçada é difícil ficar indiferente à exposição ao ar livre de esculturas em madeira que ...
No caminho para a Igreja Matriz do Outeiro da Cortiçada é difícil ficar indiferente à exposição ao ar livre de esculturas em madeira que retratam as gentes e as tradições do Ribatejo. José Costa, o artista, aproveita as madeiras deterioradas, que perderam a utilidade para outros trabalhos de escultura que, em vez de terem como destino a lareira, ganham nova vida e adornam a fronte de sua casa.
“Recebo muitos visitantes sobretudo de escolas, ainda há pouco tempo recebi um grupo de Porto de Mós. Consoante as estações ou festividades vou renovando as peças, mas a recriação da tourada, por exemplo, está permanentemente em exposição”, explica.
Mas esta é apenas a “ponta do iceberg”. Em mais de 30 anos fez mais de 1500 peças registadas e integrou a Associação dos Artesãos de Lisboa pela qual expõem regulamente, desde 1992, em Portugal, França, Bélgica e Luxemburgo, de forma individual e coletiva.
José Costa vê formas em troncos ou raízes de madeira e aí começa um processo criativo, mais ou menos moroso, dependendo do tamanho da peça, dos pormenores e do tratamento exigido pela madeira. “Pegar num pedaço de madeira e esculpi-lo é muito diferente de seguir uma forma já criada pela natureza. Não se aprende, surge com a criatividade de cada um”, assim explica um processo que pode ser complexo para uns, mas tão natural como pensar para outros.
Nasceu nesta pequena freguesia de Rio Maior e aos 13 anos começou as primeiras experiências de escultura em madeira. Autodidata, não aprendeu a arte com pais nem avós, diz que surgiu como um dom natural, talvez influenciado pelo vizinho carpinteiro a quem importunava para brincar com as ferramentas.
Da recôndita oficina no Outeiro da Cortiçada saíram peças, de grande ou pequeno porte, dignas de concursos internacionais que lhe valeram inúmeros prémios, por exemplo, o 1º Prémio no Concurso de Artesanato Criativo, na 7ª Feira Internacional de Artesanato, realizada em Lisboa, em 1994, e uma Medalha de Prata da Academia Europeia de Belas Artes de Paris, em 1996.
A vida que o levou a partir para Lisboa, onde trabalhou durante mais de três décadas como empregado de mesa na histórica Cervejaria Trindade, também o trouxe de volta às origens assim que se reformou, para se dedicar final e inteiramente à escultura.
Orgulha-se de algumas das suas peças pertencerem a figuras ilustres da nossa sociedade, como “A Velha Raposa”, uma peça da sua coleção oferecida a Mário Soares por um amigo. Em Lisboa tem peças no acervo da Associação de Artesão de Lisboa e em permanente exposição na galeria “A Arte da Terra”.
Personalidade humilde e génio criativo, José Costa procura inspiração em sentimentos, tradições, obras literárias e seus pensadores. Não vive da arte, mas reconhece que quem o faz atravessa momentos difíceis numa crise que também lhe serviu de inspiração. A mais recente narrativa que expõe o ar-livre retrata isso mesmo. Um governante, Passos Coelho, e um chefe de cozinha que reclama já não ter dinheiro para a sopa que alimenta a comunidade.